1. No dia 08 de outubro de 2018, às 03 horas da manhã, o jornal O Estado de São Paulo publicava o editorial, que foi ao ar logo após a apuração do resultado do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018, com a seguinte manchete: “Uma escolha muito difícil”. O editorial levantava o mote de que não seria nada fácil para o eleitor tomar uma decisão entre Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (até então PSL). Todo o centro de argumentação desse editorial girava em torno do “iminente desastre fiscal” em que supostamente o Brasil viria a se afundar. Não é preciso aqui esclarecer a posição normativa de cunho neoliberal no que diz respeito à política econômica do país que subjaz o editorial em questão. Afinal, o Estadão, como qualquer jornal em um país onde a liberdade de imprensa é garantida, sempre fez questão de deixar suas posições claras em relação ao que pensa ter a ver com o caminho a ser seguido na administração brasileira do dinheiro dos cofres públicos.

O que aqui quero pontuar é a reação que as forças políticas de esquerda – de modo geral – adotaram diante da posição editorial do Estadão. Não tardou para que o assunto virasse um meme difundido nos meios militantes de esquerda nas redes sociais – especialmente no Twitter -, e se tornasse objeto de crítica e ironia constante na opinião pública brasileira. O motivo das críticas irônicas, muitas vezes levadas a cabo sob a forma do deboche, não é difícil de compreender. Como poderia um jornal hesitar em defender qualquer candidato que se opusesse a candidatura imprópria e violenta de alguém como Jair Bolsonaro? Como poderia um jornal compromissado com as liberdades civis, ainda que de um ponto de vista declaradamente conservador, suscitar qualquer espécie de dúvida sobre quem deveria contar com seu apoio diante da candidatura daquele que exaltava um dos maiores torturadores da ditadura militar brasileira? Desse ponto de vista, é claro que a posição do jornal foi descabida e longe de qualquer possibilidade de fundamentação razoável que lhe pudesse fornecer qualquer espécie de motivo para duvidar de sua opção eleitoral. A continuação cada vez mais desastrosa da política econômica que se seguiu a partir do ano de 2019 – além das constantes defesas da ditadura e da tortura, bem como ameaças abertas à esquerda por parte de Bolsonaro –, não cansava de demonstrar que não havia qualquer motivo plausível para o jornal ter publicado uma nota daquele tipo. Não tardou para que os efeitos desastrosos do genocídio cometido por Bolsonaro durante seu projeto negacionista de gestão da pandemia a partir de 2020 munissem os críticos de esquerda cada vez mais com boas razões para ironizar a manchete.

Contudo, diferentemente da inteligência de esquerda que descobria a fonte da ironia em sua própria crítica, existe uma expressão fiel à ironia da realidade social brasileira no próprio título do editorial. No entanto, o próprio editorial não captou essa ironia. Tudo se passando como se houvesse uma partilha fundamental do erro de ambas as partes: não sabiam – tanto o jornal como os seus críticos – identificar a ironia real que se manifestava por todos os lados, menos ainda em seus discursos. De uma parte, o editorial não viu ironia alguma em sua expressão. De outra, as esquerdas (e, majoritariamente, a petista) não souberam captar a fonte da ironia. Antes de passar ao comentário de ambos os erros, me permitirei um comentário certamente heterodoxo que tem a ver com a crítica hegeliana do romantismo.

2. Em um ensaio sobre a filosofia romântica da vida, o jovem Lukács defendeu contraintuitivamente a tese segundo a qual Novalis teria sido “o único poeta verdadeiro da escola romântica”.[1] Afinal, teria sido somente ele quem, em sua caracterização da condição humana na figura do gênio, tentaria sem rodeios oferecer uma resposta à questão “como se pode e se deve viver hoje?”.[2] Pode-se mesmo dizer que, para Lukács, esta seria a questão romântica por excelência. A despeito do objetivo principal de seu ensaio, Lukács encontrou uma forma sui generis de expressar o ambiente cultural que possibilitou a emergência dessa questão. Não é por outra razão que Lukács encontra espaço para tratar de Novalis de forma particular somente nas duas últimas seções de seu ensaio.[3] Seja como for, é um aspecto geral sobre a emergência do romantismo que aqui me interessa. O que tentarei sugerir é que há um traço subjetivista – uma certa herança do romantismo – nas formas contemporâneas através da qual as “forças de esquerda” tentam tomar consciência da realidade social contemporânea. O subjetivismo dessas “formas de consciência” bloqueia a capacidade destas de conhecer a novidade de certas relações que emergiram. Meu ponto é o de que isso se manifesta em uma espécie de “ironia subjetiva” desenfreada. A título de ilustração, Lukács, a certa altura de sua descrição do ambiente que possibilitou a emergência do romantismo, diz o seguinte sobre as tentativas dos românticos em encontrarem uma resposta prática e ordinária – notavelmente inadequada – à questão de seu tempo:

O preço que os românticos tiveram de pagar pela sua arte de viver foi um abandono aparentemente consciente da vida; entretanto esse abandono só era consciente na superfície, no plano psicológico: sua natureza mais profunda e suas relações mais profundas permaneceram desconhecidas pelos próprios românticos e, por isso, sem redenção e força redentora. A realidade efetiva da vida desapareceu diante de seus olhos e foi substituída por outra, poética e puramente anímica.[4]

Ou seja, a própria vida prática compartilhada de modo geral pelo movimento romântico expressava um abandono da vida. Suas “formas de consciência” chegavam apenas à “superfície”. Parece que Lukács se colocou uma pergunta do seguinte tipo “Será que este movimento não adotava um comportamento radicalmente subjetivo em relação à própria mentira de seu cosmo sonhado?”. Sua resposta foi mais ou menos a seguinte: “É por isso mesmo que os românticos acreditam que o mundo por eles representado é o mundo real. Já que as exteriorizações subjetivas eram tudo, certamente não haveria espaço de reflexividade em sua própria arte”. Disso tudo se seguindo que jamais poderiam conhecer as “relações mais profundas” do “preço que tiveram de pagar” por conta de seu comportamento radicalmente subjetivo. Um pouco como a crítica de Hegel ao romantismo em suas Lições de Estética, o jovem Lukács apontava no “preço a pagar” justamente um desvio subjetivista de negação “aparentemente consciente” da realidade. Como se sabe, a crítica de Hegel ao humor subjetivista dos românticos deve-se à impotência destes em expressar a “ironia real” da vida contemporânea. Restava-lhe apenas um tipo específico de sarcasmo; uma “ironia subjetiva” de reação à realidade. Como comenta Zizek, “sua ironia completamente destruidora é na verdade demasiadamente impotente: realmente ela não fornece ameaça a nada, apenas fornece ao sujeito irônico a ilusão de liberdade e superioridade interior”.[5] Trata-se, nesse sentido, do que aqui chamarei de “ironia subjetiva”. É isso, por exemplo, que Hegel tem em vista na seguinte passagem:

No humor, o artista não tenta dar uma forma artística e acabada a um conteúdo objetivo que já foi constituído em suas características principais, uma vez que as propriedades que lhe são inerentes, mas introduz a si mesmo, por assim dizer, no objeto de arte e aplica o princípio de sua atividade para decompô-los e demarcá-los com base em conceitos subjetivos, lapsos de pensamentos, formas de interpretação surpreendentes, assim destruindo tudo o que tende a se objetivar e a assumir uma forma concreta e estável. Dessa maneira, a um só tempo, abole-se toda autonomia do conteúdo objetivo e coerência estável da forma que surge da própria coisa; a representação artística não passa de um jogo com os objetos, uma deformação e uma inversão de sentido da matéria artística por meio de um ir e vir do sujeito e do entrelaçamento de suas ideias e atitudes por meio das quais expressa o abandono que faz do objeto e de si mesmo.[6]

Hegel exprime aqui, com maior profundidade do que Lukács, o abandono da “realidade efetiva da vida” que o artista romântico apresenta por meio da ironia inerente a suas piadas, chistes e outras representações humorísticas subjetivas. Não há nenhum mistério aqui, pois o significado de “ironia” é o mesmo do Caldas Aulete: “uma figura de linguagem geralmente usada para fazer graça ou mostrar irritação, em que se declara o contrário do que se pensa”.[7] Como diz Hegel, “uma inversão de sentido da matéria artística” que ocorre somente na subjetividade do artista. O humor romântico faz graça com a “matéria artística” declarando o contrário do que pensa. Isso porque a natureza do humor subjetivo é uma atitude de ressignificação do representado por meio de conceitos que não são extraídos do conteúdo em questão. Como quando não concordamos com o fato de um jornal dizer que havia uma escolha e essa escolha era muito difícil e, para mostrar que não concordamos com isso, repetimos: “uma escolha muito difícil mesmo”. Nesse caso, a graça é imputada na “inversão do sentido” pelo leitor do jornal e não pelo próprio jornal. O mesmo se passa no caso do romantismo, onde a forma da representação é inteiramente imputada pela própria subjetividade do artista. É dizer, sua ironia é um modo de interpretação que lhe é próprio e, como diz Hegel, sua representação expressa traços analíticos de uma decomposição e demarcação da ironia que só ele (a intersubjetividade da qual ele compartilha com os outros românticos) percebeu: de conceitos subjetivos. Por essa razão, não passam de lapsos de pensamentos que violentamente impõem a forma da piada e do chiste ao representado, anulando, por conseguinte, a autonomia do objeto artístico.

De outra parte, foi Lukács quem pôde melhor perceber que essa “ironia subjetiva” não só violenta a autonomia da “realidade efetiva da vida”, mas oculta a própria razão de sua violência. Porém, essa própria violência é ela mesma subjetiva, pois a “realidade efetiva da vida” é abolida na cabeça do romântico ou do leitor de jornal que faz graça com a inversão de sentido de um mesmo enunciado (e. g., “Uma escolha muito difícil”). É por essa razão que os próprios conceitos totalmente subjetivos de demarcação e decomposição presentes na piada fazem com que a razão da anulação da “realidade efetiva da vida” permaneça desconhecida. Como se ela fosse um “outro” incapaz de ser percebido pela demarcação e decomposição da representação artística. Até porque decomposição e demarcação são sempre processos de identificação e, por essa simples razão, anulam a diferença. É dizer, trata-se de um defeito constitutivo da arte romântica em querer representar algo. O segredo da “ironia subjetiva”, então, não é tanto o de que ela faz graça através da “inversão de sentido da matéria artística” ou, caso preferirmos, pela declaração do “contrário do que se pensa”, mas sim que só pode encontrar graça nessa “inversão de sentido” ignorando a existência daquilo que não foi capaz de decompor e demarcar. Ou melhor: daquilo que não se deixa conhecer por processos de decomposição e demarcação. Até porque a “ironia subjetiva” destrói e anula “tudo o que tende a se objetivar e a assumir uma forma concreta e estável”.

Não seria desnecessário dizer que Lukács e Hegel não se voltam contra a ironia em sua inteireza. Eles estão a criticar apenas a forma da ironia que se manifesta em um humor subjetivo que não corresponde à “realidade efetiva”, mas à “realidade ilusória” do artista. Diagnóstico da piada e do chiste que está ancorado em uma espécie de descrição geral do ambiente que permitiu o surgimento da questão romântica.[8] Há diversas passagens na obra de Hegel, por exemplo, na qual se comenta da estrutura irônica, se quisermos empregar outra vez a expressão de Lukács, da própria “realidade efetiva da vida”. No entanto, trata-se de uma ironia objetiva na qual não é o artista quem inverte o sentido do representado; mas uma “ironia real” – como procurarei chamar – cuja expressão é a inversão de sentido da própria realidade através de seu modo de apresentação. Como se houvesse uma “realidade efetiva da vida” que só pudesse aparecer aos olhos do artista como uma “deformação e inversão” de seu sentido verdadeiro. Dessa forma, para Hegel, talvez a arte mais autêntica fosse aquela que expressasse a “ironia real” da vida, a qual todos levamos e não, do contrário, como fizeram os românticos, ironizasse aquilo que aparece como cômico em suas próprias interpretações representativas. O que implica dizer que o processo de fazer graça do “romântico” representa a graça que viu somente no resultado de sua demarcação e sua decomposição. Afinal, a “ironia subjetiva” só pode ironizar um representado.

Se adotarmos uma concepção expressiva e não representativa, não haveria por que fazer qualquer piada com o representado. Em seu lugar, estaria o expressado e, nesse sentido, quando a arte expressa uma “ironia real”, ela pode se sensibilizar com esta e não a ironizar. Isto é, a “ironia real” não é uma atividade como a “ironia subjetiva”, mas um movimento de “inversão do sentido” pela própria forma através da qual a “realidade efetiva da vida” se apresenta diante de nós. Se quisermos, esse outro artista não diria “claro, uma escolha muito difícil mesmo” ao ler uma manchete de jornal com o título “Uma escolha muito difícil”. Ao contrário, se perguntaria: “por que essa escolha se apresenta como se fosse uma escolha difícil?”. Pois para conseguir expressar efetivamente a ironia presente na “realidade efetiva da vida”, exige-se do artista que este conecte-se sensivelmente com o que está além do limite da razão representativa. Essa conexão sensível não opera por processos de demarcação e decomposição imputados por parte do sujeito à “matéria artística”. Isto é, a busca pela “ironia real” é uma tentativa de compreensão daquilo “que tende a se objetivar e a assumir uma forma concreta e estável”. Compreender o que está tentando “assumir uma forma concreta” exige uma postura do seguinte tipo diante de uma manchete de jornal: “o que está se manifestando e se objetivando para que essa escolha seja uma escolha difícil?”. É possível que a “ironia real” seja esse processo que faça com que algo apareça como difícil. Muito embora esse processo de apresentação seja um processo de “inversão do sentido” e de manifestação do “contrário do que se é”, não se trata de uma simples “ilusão”. Bem entendida a diferença, quem se ilude é o artista da “ironia subjetiva”, pois ignora a “realidade efetiva da vida”. No último caso, o próprio termo “ironia real” denota que a “inversão de sentido” efetivamente ocorre, isto é, a realidade não poderia se apresentar de uma forma que não contrariasse a si mesma. Nesse sentido, o modo de manifestação da “inversão” faz parte da própria realidade. Daí que não se pergunta o que a “matéria artística” esconde ou se ela está nos enganando, mas sim o porquê dela se apresentar como tal.

Penso que essa consideração não é descabida. Afinal, não faltaram análises no Século XX acerca da natureza cínica da própria realidade. No limite, a própria teoria da indústria cultural dos frankfurtianos não passou de uma conceitualização da “ironia real” onde os próprios objetos artísticos adquirem um significado totalmente distinto de sua naturalidade. O que tornaria, por seu turno, a “opinião pública” dessensibilizada a certos tipos de expressão que estariam, então, bloqueados à perspectiva daquele que ri das próprias representações. Porém, a fim de demonstrar essa “ironia real” da “realidade efetiva da vida” gostaria de me remeter ao fetichismo da mercadoria de Marx como exemplo.

Pode-se mesmo dizer que a análise do fetichismo da mercadoria – a quarta determinação constitutiva da forma do valor no primeiro capítulo de O Capital – é uma descrição a respeito de uma inversão do sentido de nossas práticas sociais. Já nos Manuscritos de 1844, Marx chamou esse processo de “alienação” e “estranhamento”. Com isso, tinha em vista o “sistema do dinheiro” enquanto a expressão invertida da força de trabalho humana. Somente por isso, aliás, pudera concluir contra os economistas políticos que a propriedade privada não é um fato natural e a-histórico. A propriedade privada apareceria agora, na descrição da “ironia real” por parte de Marx, como uma inversão historicamente específica das próprias coisas. Ou seja, meu trabalho não aparece como meu trabalho, mas como renda, lucro e juros. E essa aparição é real: pois renda, lucro e juros realmente existem como se fossem expressão da força de trabalho. Em suma, como parte do “sistema do dinheiro”. Na Ideologia Alemã referiu-se a isso como “estranhamento”. Por exemplo: quando mostra que as atuais formas de apropriação privada da natureza tomam a “terra” não como “solo”, mas como “renda”. Até que, enfim, do ponto de vista da consolidação científica de sua crítica da economia política, Marx pôde localizar a gênese dessa “ironia real”, que inverte a natureza das próprias coisas em dinheiro, no próprio fato de que o dinheiro é um “equivalente universal” e atua como expressão equivalente de todo o trabalho humano. Ou seja, dinheiro seria a função formal de qualquer valor de uso que possa ocupar um espaço de validação social garantido, dotado de uma validade temporal considerável e que exista de uma forma minimamente abrangente capaz de expressar a grandeza de valor das mercadorias, por exemplo, o ouro. É através dessa função que conseguiríamos trocar mercadorias por dinheiro. Não fosse a “ironia real”, não seria possível comprar e vender. Uma vez que em toda troca de mercadoria por dinheiro ocorre uma “abstração real” do conteúdo qualitativo dos trabalhos que produzem a mercadoria trocada, poderíamos dizer que esse processo de apresentação do “trabalho” como “dinheiro” através da “abstração” é um movimento irônico da “realidade efetiva da vida” e, só porque é assim, tal movimento é uma pressuposição fundamental de todo ato de troca.

A ironia das descrições de Marx jamais foi uma mera atitude subjetiva e representativa diante da “função equivalente” do dinheiro. Não à toa que é o dinheiro quem se apresenta como quem representa o valor das mercadorias. Como um sujeito que ignora a diferença sensível dos valores de uso e apenas demarca e decompõe o tempo socialmente necessário para produzir as mercadorias. As descrições irônicas de Marx sempre foram uma tentativa de expressar a revolta sensível dos valores de uso contra o dinheiro. Basta lembrar que a abstração real dos trabalhos na troca é sempre uma pretensão representativa do dinheiro e nunca a anulação completa dos valores de uso. Como se o dinheiro tivesse uma atitude subjetiva diante das coisas.

Afinal, não seria uma “ironia real” o fato de que a troca de mercadorias por dinheiro faz com que o conteúdo qualitativo dos trabalhos distintos de cada produtor deixe de ter qualquer importância? Não seria uma “ironia real” o fato de que a produção de várias utilidades à vida humana não tem qualquer função de utilidade a não ser a troca? A esse processo no qual todas as mercadorias produzidas na sociedade expressam seu valor em um único equivalente universal, a saber, o dinheiro, Marx chamou fetichismo. De certa forma, o fetichismo é um processo no qual o tipo de existência das próprias coisas é invertido: elas existem como dinheiro. Essa talvez seja a “ironia real” de que a terra não sirva para plantar e nem para ser cuidada, mas para plantar somente algo que se ajuste rapidamente à forma do dinheiro e possa ser monetizado em sua exploração. Se Marx descreveu isso com sucesso, podemos dizer que isso se deve à sua enorme sensibilidade em tentar expressar uma história que, ao final de O Capital, ele diz ser de sangue e fogo. Em suma, a expressão de uma dor não diretamente reconhecida. Sintomático notar a “ironia subjetiva” dos que se dedicam a vida a criticar a “sociedade do consumo” e se valem de Marx para dar o nome de “fetichismo” ao desejo pela perseguição de valores de usos passando ao largo de toda “ironia real”. Se a esquerda contemporânea pode descrever a sociedade atual como uma sociedade do consumo, não haveria mistério em dizer que isso se deve à sua atitude representativa. Uma atitude carente de qualquer sensibilidade a dor expressa pelos valores de uso em sua batalha contra o dinheiro. Em síntese, uma “ironia subjetiva” ou, se quisermos, uma piada com representações que em seu processo de provocar risos ocultam a expressão de uma dor real. Coisa que, aliás, não é tão distante da “ironia subjetiva” que tentarei identificar logo à frente. Mas chega de Marx. O ponto aqui é apenas mostrar como uma perspectiva meramente subjetiva, à moda dos românticos e do puro chiste, jamais poderia expressar esse processo de “ironia real” (quase sempre acompanhado de uma dor), já que projeta uma representação constituída somente por conceitos subjetivos.

3. Mas o que toda essa parafernália conceitual produzida na Alemanha do Século XIX tem a ver com aquele editorial do Estadão? Tanto a sua manchete, quanto a recepção irônica no emaranhado de memes, piadas e chistes por parte da “esquerda” guardam muitas semelhanças estruturais com a ironia subjetiva dos românticos.

Por um lado, é tão curioso que o Estadão tenha rotulado a controvérsia sobre o “iminente desastre fiscal” brasileiro de “uma escolha muito difícil”. Pois tanto à posição neoliberal claramente expressa do jornal, quanto ao público que faz escolhas e toma decisões financeiras com base em suas especulações subjetivistas, a escolha não era nada difícil. A verdade é que sequer tinham de escolher; exemplo da facilidade de classes que possuem um mínimo de vida livre: não precisar escolher. Afinal, nenhum dos candidatos apresentou em 2018 um programa de governo que ignorasse propostas de ajuste fiscal. Sem dúvida, para capitalistas, proprietários fundiários e investidores de toda sorte (é claro, jamais os indivíduos por trás desses papeis sociais – afinal, os primeiros também cumprem a pena que a sentença de Sartre lhes imputou), a eleição de 2018 sequer representou escolha alguma. Era muito fácil. Curioso seria entender, então, o que todo esse clima de polarização dentro dos próprios representantes do dinheiro expressa. Porém, talvez essa seja uma tarefa possível somente post festum. O fato é que objetivamente não haveria nenhuma dificuldade para o voto: qualquer um serviria aos propósitos de políticas que tentassem evitar o “iminente desastre fiscal”. Dessa perspectiva, a manchete soa mesmo como uma piada de mau gosto. Contudo, não penso que se deva encarar a manchete como uma atitude cínica de quem já havia feito uma opção eleitoral e levantaria a dúvida da escolha apenas dissimuladamente. Como procurarei mostrar adiante, talvez o mérito dessa manchete – e não tanto o conteúdo sobre o mito do “iminente desastre fiscal” – tenha sido o de expressar como nenhuma outra o drama da “ironia real” da escolha política brasileira.

De outra parte, as “forças de esquerda” que não só à época fizeram piadas e memes de todo tipo com a manchete, mais do que imputarem a todo tempo uma espécie de “interesse burguês obscuro” ao jornal – como a vulgata da segunda internacional acostumou as esquerdas –, restaram convictas de que a candidatura de Haddad apresentaria grandes diferenças. Diferenças essas que qualquer um compromissado com as “liberdades democráticas” (seja lá o que for a referência desse substantivo composto tão indeterminado) e com um “programa de desenvolvimento econômico razoável” (mais uma imitação do que o discurso corrente faz saltar à vista, sem nenhum compromisso de referente claro) deveria enxergar e reconhecer. Não é por outra razão que seus memes geralmente são enunciados que repetem e invertem o título do editorial do Estadão: “Claro, era uma escolha muito difícil” ou “Uma escolha muito difícil mesmo”.  Convém notar que o enunciado irônico dos esquerdistas geralmente vem acompanhado de alguma manchete do próprio Estadão onde pode-se ler alguma espécie de crítica atual ao governo Bolsonaro. Por conseguinte, a esse militantismo de falsa resistência, a questão não deveria demandar dificuldade alguma: afinal, era uma escolha muito fácil. Estando implicado a isso, muitas vezes, que o próprio jornal não teria de criticar tanto o governo, caso tivesse feito a escolha “fácil”.[9] Não seria difícil perceber, então, a graça em ironizar o jornal. Mas, como vimos, o segredo de processos de “ironia subjetiva” é que a graça produzida é resultado de uma destruição e anulação daquilo que a demarcação e a decomposição humorísticas não conseguiram compreender. Nesse caso, a “ironia subjetiva” é fundamentalmente um erro ou uma ilusão.

O erro aqui foi muito mais básico: escolhas nunca são fáceis.[10]

O que espanta é que não só aqui, mas em outras tantas vezes, a “ironia subjetiva” da piada com o jornal expressa o fato de que as “forças de esquerda” não se sentem nem desconfortáveis em assumir que o projeto que apoiavam era mesmo neoliberal (isso mesmo: não só uma política econômica reduzida em termos fiscais, mas uma defesa de uma forma de vida extremamente parecida com aquela do lado “de lá”). A postura generalizada das “forças de esquerdas”, como podemos ver, foi uma tentativa de demarcar e decompor com seus próprios vícios conceituais a graça do representado. Com efeito, tudo que tais forças puderam ver na manchete foi uma manchete. Ninguém se perguntou: “mas porque essa escolha política se apresentou como uma escolha muito difícil?”. Resultado comum, como recém vimos, aos artistas que adotam uma atitude subjetiva de representação. Por meio de desconstruções de discursos segundo os quais o Partido dos Trabalhadores seria uma força socialista radical – como a suposta oposição bolsonarista costuma lhe apresentar –, essa espécie de opinião pública dócil não consegue se espantar com a “realidade efetiva da vida” – porque se perdeu em seus próprios “conceitos subjetivos” – que se escancara diante de seus próprios olhos: a “alternativa” de política econômica neoliberal de um partido que se intitula “dos trabalhadores” é defendida com unhas e dentes até mesmo pelos marxistas-leninistas (ainda existem!) mais fiéis.

O que estou querendo sugerir é que existe uma “realidade efetiva da vida” que as “forças de esquerda” não estão conseguindo expressar. Por quê? Porque adotam uma postura representativa diante da realidade. O que implica assumir que sua “ironia subjetiva” é um humor de estilo conspiratório em relação ao jornal. Não conseguem, portanto, ver na manchete uma expressão fragmentada da realidade e apenas lhe imputam marcas de conceitos subjetivos pré-formados. Essa postura não lhes sensibiliza com o “outro” contido no editorial – ainda que fragmentariamente – que as demarcações e decomposições de seu meme ignoram. Sua representação só pode identificar a graça na manchete e, por conseguinte, justificar o riso, porque abstraiu de toda diferença que a manchete expressou – ainda que sem o saber. De maneira similar, o dinheiro pretende apenas representar o valor das mercadorias, mas também expressa – sem conhecimento disso – a dor sensível dos valores de uso das mercadorias.  À vista disso, quero indicar que a própria “ironia subjetiva” é parte da “ironia real” que levou a escolha política se apresentar como se fosse uma escolha difícil.

E é aqui que podemos nos aproximar da “ironia real” expressada no drama de nossa situação específica. Mas não devemos entender mal. Não se trata de puxar a corda e bater na tão repetida tecla de que a “esquerda deixou de ser esquerda” e coisas do gênero; antes se trata de um apelo para que seja abandonada essa metafísica pressuposta pela atitude subjetiva da representação artística da piada. Muitas vezes se esquece que quando Hegel criticou a “ironia subjetiva” da piada romântica, ele estava mais preocupado com a vida ordinária do que talvez possa parecer. Não se trata de uma mera oposição teórica à estética do romantismo. O romantismo não é uma forma estética que paira no ar. Os grupos sociais de nossas sociedades possuem atitudes e características que podem expressar uma estética romântica. Piadas, chistes e memes desse tipo não são atitudes metafisicamente ingênuas: elas expressam uma interpretação do mundo. Além disso, são informadas conceitualmente por processos de identificação: a demarcação e a decomposição. A pergunta, portanto, é: o que as “forças de esquerda” têm expressado com essas piadas? Certamente estão muito longe de criticar a ironia da “realidade efetiva da vida”. Ironizar a manchete do editorial do Estadão é uma de tantas outras formas de glorificar a “realidade efetiva da vida”: trata-se da expressão de um profundo subjetivismo que já perdeu qualquer contato com a realidade. Até porque essa piada não é uma piada individual, mas a ironia que expressa a voz meramente passiva de um sujeito coletivo. Mas não seriam essas “representações que não representam nada de real”, para usar um jargão de Marx, a morada do perigo? Esse, talvez, seja o resultado de se entregar inteiramente a restrição subjetiva dos conceitos que demarcam nossas representações: acreditar que escolhas fáceis sejam possíveis. Talvez seja apenas uma outra maneira melancólica de achar graça na própria derrota. Afinal, enquanto o mercado eleitoral garantir cerca de 35% do eleitorado, quem é que vai se importar com a interpretação da situação atual das relações sociais que expressam a ironia real de nossa “realidade efetiva da vida” brasileira?

O problema é que a despeito de tais “representações não representarem nada de real”, elas possuem um impacto fortíssimo na vida de milhões de pessoas. Pessoas que vivem uma eterna e infindável espera por uma alternativa. Mais do que isso: por uma alternativa real e não por uma alternativa meramente eleitoral. Mas, diferentemente da melancolia da piada, sabem que uma alternativa real ainda não existe. Sabem que construir uma alternativa real a “tudo isso que está aí” requer escolhas muito difíceis. Escolhas que conduzam a uma prática social com capacidade de transformar significativamente a “realidade efetiva da vida”. Escolhas que expressem (e não representem) o seu desejo de uma forma de vida livre. Ora, o que os processos de demarcação e decomposição ou, se preferirmos, o que a base do riso das “forças de esquerda” tem expressado, é uma total falta de sensibilidade com a dor de quem tem de fazer essas escolhas. Uma dor que a manchete do Estadão inconscientementenão conseguiu ocultar. Não é por acaso que a “ironia subjetiva” do riso petista não possui mais nada para oferecer a não ser sua melancólica nostalgia de um suposto “passado glorioso”. A atitude contemplativa da piada não é o seu único problema. Devemos lembrar que risos melancólicos sempre são a expressão mais adequada de quem já não consegue perceber, mesmo em situações tão escandalosas, o diferente e o dissonante. O riso é uma espécie confortável de comportamento tautológico; o orgulho daquele que encontra coerência na ilusória impressão de que pode ser idêntico a si mesmo. A coerência não é só uma forma de fechar os olhos para a “diferença” que tenta se fazer presente na manchete. Ela é uma maneira de justificar práticas hegemônicas de anulação do “outro”. Pois enquanto o reconhecimento dessa dor não estiver no horizonte das “forças de esquerda”, a sua perspectiva representacional só poderá identificar um único caminho a ser trilhado: o voto. Quando mais não seja para efeitos de precisão: um voto específico e viciado de 35% do eleitorado – incapaz de expressar a insatisfação generalizada de novos sujeitos políticos.

O primeiro passo na aproximação das “relações sociais” da “realidade efetiva da vida” brasileira talvez seja levar mais a sério excelentes pesquisas como as de Rosana Pinheiro-Machado e Lúcia Scalco e colocá-las no eixo de atenção de qualquer construção de alternativa que queira entender a ironia de nossa realidade.[11] Até porque nossas “forças de esquerda” continuarão não compreendendo muitas das particularidades brasileiras das relações sociais capitalistas enquanto não prestarem atenção à “subjetividade política de indivíduos de baixa renda”. Talvez esse seja um bom começo para entender por que, para a “subjetividade política de indivíduos de baixa renda”, 2018 foi (e ainda continua a ser) uma escolha muito difícil. Essa é a dramática “ironia real” que a razão representativa da piada não conseguiu enxergar na manchete do Estadão. O que se passa com as “forças de esquerda” é o mesmo que passou com a velha que visitou o médico: perdeu o uso dos olhos.[12] Só lhe sobrou a razão. Mas a própria razão não lhe permitiu enxergar que o sujeito da escolha não era o Estadão! Somente uma “ironia real” pode trazer à memória da “ironia subjetiva” que a contínua precarização do trabalho não permite a essa subjetividade política qualquer resquício de romantismo. Ela não tem tempo para rir de manchetes de jornais; precisa a todo tempo remediar sua dor com trabalho e mais trabalho, já que a expressão sensível desse sofrimento ainda não encontrou vazão. Para aquele que sofre, escolhas jamais serão fáceis. Pois sabe muito bem que a piada é a mais conservadora de todas as artes e a postura altamente contemplativa do riso não lhe pode ajudar a conquistar coisa alguma. Não lhe ajuda, a bem da verdade, a tomar escolha alguma. Sua sensibilidade possui um diagnóstico muito mais realista da situação do que a mera cordialidade oferecida pelas “ironias subjetivas” que agora calam pacientes em sua esperança cega para 2022. Se escolhas fossem fáceis, Theodor Adorno jamais teria dito que a liberdade só seria uma “realidade efetiva da vida” lá onde já não estaríamos mais condenados a ter que escolher. Porém, quem se acostumou a tratar a política como se esta fosse uma questão de racionalidade prática, sempre terá como ônus a falta de sensibilidade à especificidade histórica da condição social que nos condena a escolher entre mais ou menos Estado, entre mais ou menos mercado.[13] Mas isso já nos levaria a uma outra questão, da qual os românticos gostariam ainda menos, e que aqui não poderei abordar: existem escolhas políticas? E, se elas existem, elas expressam conflitos e lutas sociais ou representam uma “vontade geral”?

4. Talvez seja o caso de tentar ilustrar a distinção entre essas duas formas de pensar escolhas políticas com uma passagem do Manifesto Comunista. Trata-se de um trecho do texto no qual Marx e Engels criticam uma certa concepção de esquerda que insiste em pensar que escolhas políticas dizem respeito à representação da vontade do povo. Com isso, quero sugerir que interpretar escolhas políticas ou como expressão ou como representação é um resultado de uma situação historicamente específica na qual certas formas de vida são tão antagônicas que sua reconciliação talvez seja impossível. A estética de nossos comportamentos ordinários é uma evidência de quanto nossa interpretação do mundo é moldada por essa distinção:

[…] as reivindicações da primeira revolução francesa só eram, para as filosofias alemãs do século XVIII, as reivindicações da ‘razão prática’ em geral e a manifestação da vontade dos burgueses revolucionários da França não expressava, a seus olhos, senão as leis da vontade pura, da vontade tal como deve ser, da vontade verdadeiramente humana. […] Os literatos alemães agiram em sentido inverso a respeito da literatura francesa profana. Por exemplo, sob a crítica francesa das funções do dinheiro, escreveram ‘alienação da essência humana’, sob a crítica francesa do Estado burguês, escreveram ‘superação do domínio da universalidade abstrata’, e assim por diante […]. E, como na mão dos alemães essa literatura tinha deixado de ser a expressão da luta de uma classe contra a outra, eles se felicitaram por terem se elevado acima da ‘estreiteza francesa’ e defendido não verdadeiras necessidades, mas a ‘necessidade da verdade’ […][14]

No caso brasileiro, alguns literatos preferiram substituir a ‘necessidade da verdade’ pela seguinte frase presente na capa de um livro: “A verdade vencerá”. Ao acordar pela manhã e ler uma manchete de jornal, podemos escolher rir e nos felicitar por arrogantemente nos elevar acima da ‘estreiteza da subjetividade política de baixa renda’ com piadas ou tentar compreender a expressão – nem tão clara no primeiro contato imediato com a estampa do editorial – da “ironia real” que se volta contra nossa sensibilidade. Mas esse processo sensível de compreensão exige um esforço contínuo de afastamento de atitudes subjetivas de representação. Esse esforço se chama historicização. Falar sobre isso, entretanto, exigirá outras prosas.



Notas:

[1] LUKÁCS, 2011, p. 96.

[2] LUKÁCS, 2011, p. 87.

[3] “Até aqui Novalis foi mencionado apenas esporadicamente, e, no entanto, estivemos falando dele o tempo todo”. LUKÁCS, 2011, p. 93.

[4] LUKÁCS, 2011, p. 92.

[5] ZIZEK, 2018, p. 80.

[6] HEGEL, 1979, p. 356-357.

[7] https://www.aulete.com.br/ironia

[8] Vale lembrar que era justamente por encarar a vida de forma não poética e livre de toda colonização do representado por piadas inteiramente subjetivas que Novalis pôde, na acepção de Lukács, ser o único romântico autêntico. Na tese contraintuitiva do húngaro, o ponto era justamente porque havia abandonado o ultrasubjetivismo do espírito de sua época.

[9] Como num truque de mágica, as “forças de esquerda” teriam descoberto a verdade da posição neoliberal: era muito fácil. Contudo, a unilateralidade de sua piada não lhes permitiu até hoje a ter clareza acerca do index da facilidade da escolha. Quer dizer, ora o index da piada é tido como um “tanto faz”, ora está na opção por Haddad. O fato é: o diagnóstico de que certas escolhas podem ser fáceis está em extrema consonância com os realmente preocupados com o “ajuste fiscal”. A esquerda não via problema em querer o ajuste fiscal.

[10] Aliás, essa é a maior lição de Antoine Roquentin.

[11] Por exemplo, SCALCO, Lucia Mury; PINHEIRO-MACHADO, Rosana. Da esperança ao ódio: juventude, política e pobreza do lulismo ao bolsonarismo. IHU Ideias, out-2018. Acesso em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/583354-da-esperanca-ao-odio-juventude-politica-e-pobreza-do-lulismo-ao-bolsonarismo.

[12] Ver a fábula da velha e do médico.  https://fablesofaesop.com/the-old-woman-and-the-physician.html.

[13] O dictum correto seria: a humanidade está condenada à liberdade – na modernidade.

[14] MARX; ENGELS, 2018, p. 44-45.


Referências Bibliográficas

ESOPO. The Old Woman and the Physician. Acesso em: https://fablesofaesop.com/the-old-woman-and-the-physician.html

HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Esthétique. v. 2. Trad. S. Jankélévitch. Paris: Flammarion, 1979.

LUKÁCS, Georg. A alma e as formas. Trad. Rainer Patriota. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. In: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich; LENIN, Vladimir. Manifesto Comunista, Teses de Abril. Trad. Álvaro Pina e Ivana Jinkings. São Paulo: Boitempo, 2018, pp. 21-52.

SCALCO, Lucia Mury; PINHEIRO-MACHADO, Rosana. Da esperança ao ódio: juventude, política e pobreza do lulismo ao bolsonarismo. IHU Ideias, out-2018. Acesso em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/583354-da-esperanca-ao-odio-juventude-politica-e-pobreza-do-lulismo-ao-bolsonarismo.

ZIZEK, Slavoj. Like a Thief in Broad Daylight: Power in The Era of Post-Humanity. London: Penguin, 2018.

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