1: O novo mestre obsceno

O espaço público obsceno que está emergindo hoje muda a forma com que a oposição entre as aparências e os boatos funcionam. Não é que as aparências não possuam mais importância quando a obscenidade reina diretamente; é que, na verdade, espalhar boatos obscenos e agir de forma obscena sustenta, paradoxalmente, as aparências do poder.  As coisas são, num certo sentido, similares com o que aconteceu nas últimas décadas com a figura do detetive dos romances policiais: ele ou ela podem ser aleijados, meio doidos, ou tanto faz, mas a sua autoridade de detetive infalível se mantém intocada. No mesmo sentido, um líder político pode agir de forma indigna, fazer gestos obscenos, etc., mas tudo isso, em contraste, reforça sua posição de mestre.

É como com Trump, que nos surpreende de novo com quão longe ele está disposto a ir com suas obscenidades vulgares. No ponto alto dos ataques de Trump à Lisa Page, ex-advogada do FBI, em um comício na cidade de Minneapolis em outubro de 2019, ele executou uma reencenação tosca das mensagens de Lisa com Sr. Strzok, seu ex-amante, como se o casal estivesse no meio do ato sexual, imitando seus espasmos orgásticos. Lisa Page compreensivelmente explodiu de raiva. Mas a mesma história se repete: Trump sobrevive mais uma vez ao que seus inimigos consideravam a gota d’agua que o destruiria.

Nós estamos aqui no final oposto do Stalinismo onde a figura do líder deve ser mantida imaculada a qualquer custo. Enquanto o líder Stalinista teme até que a menor indecência ou imperfeição destruirá sua posição, nossos novos líderes estão prontos para ir bem além na renúncia à dignidade. A aposta deles é que essa renúncia funcionará de alguma forma como aquela nota pequena na orelha de um livro de um famoso escritor contemporâneo, a nota pretende demonstrar que o autor também é um ser humano comum como nós (“Em seu tempo livre, X gosta de colecionar borboletas”). Longe de diminuir a grandeza do autor, o engrandece de modo contrastado (“veja, até grandes pessoas tem hobbies ridículos…”). Nós somos fascinados por essas notas, única e precisamente porque ele ou ela são grandes autores; se uma nota dessas fosse sobre uma pessoa comum, seriamos indiferentes a respeito disso (“quem liga para o que qualquer pessoa faz no seu tempo livre”).

A diferença é, não obstante, que esses tipos de líderes são como os Kim Kardashian da política. Somos fascinados por Kim porque ela é famosa, mas ela é famosa só por ser famosa; ela não está fazendo nada de significante além de coisas comuns. De forma análoga, Trump não é famoso apesar de suas obscenidades, mas por causa delas. Nas velhas cortes reais, o rei normalmente tinha um palhaço cuja função era destruir a aparência da nobreza com piadas sarcásticas e comentários sujos (deste modo, confirmando por contraste a dignidade do rei). Trump não precisa de um palhaço; ele já é seu próprio palhaço, e não há dúvidas que seus atos são as vezes mais engraçados e de pior mau gosto do que as performances de seus imitadores cômicos. A situação padrão é invertida: Trump não é a pessoa respeitável cujos boatos estão circulando; ele é uma pessoa (abertamente) obscena que quer que sua obscenidade apareça como uma máscara de sua dignidade. Alenka Zupančič elaborou um contraste entre essa lógica e a lógica clássica de dominação em que

“a mancha na imagem do rei é simultaneamente a mancha do próprio rei e, como tal, inadmissível. A nova lógica é: deixe a imagem ser castrada de todas as formas possíveis enquanto eu posso fazer mais ou menos tudo o que eu quero. Ainda mais, eu consigo fazer o que eu quero precisamente em razão de e com a ajuda dessa nova imagem.”[1]

Isso, mais uma vez, é como Trump funciona: sua imagem pública é manchada de todas as formas possíveis, o povo está surpreso com como ele consegue reiteradamente nos chochar atingindo um novo nível de obscenidade, mas ao mesmo tempo ele governa no pleno sentido do termo, impondo decretos presidenciais, etc. – a castração é aqui virada de ponta cabeça de um jeito desconhecido. O fato básico do que Lacan chama “castração simbólica” é a lacuna que me separa, meu psiquismo (derradeiramente miserável) e a realidade social, de meu mandato simbólico (identidade): eu sou um rei não em razão de minhas características imanentes, mas porque eu ocupo um certo lugar no edifício socio-simbólico, i.e., porque os outros me tratam como rei. Com o mestre obsceno de hoje, a “castração” é deslocada para a imagem pública. Trump tira sarro de si mesmo e se priva de qualquer vestígio de dignidade, ele zomba de seus oponentes com uma vulgaridade chocante, mas sua autodepreciação não só não afeta a eficiência de seus atos administrativos; isso até o permite realizar esses atos com a maior brutalidade, como se, ao assumir abertamente a “castração” da imagem pública (renunciando a insígnia da dignidade) possibilitasse a forma completa “não-castrada” de exibição do verdadeiro poder político. É crucial ver como a “castração” da imagem pública não é apenas um sinal que essa imagem não importa, que só o poder administrativo que conta. Em vez disso, é o desenvolvimento total do poder administrativo, de forçar medidas, que só é possível quando a imagem pública é “castrada”.

Mas, e quanto ao político que age como um administrador eficiente não-sem-sentido e também assume tal imagem publicamente (“um cara prático que despreza rituais vazios e só está interessado nos resultados…”)? A lacuna entre imagem pública e a pessoa de verdade ainda está sendo trabalhada nesta identidade, então alguém pode facilmente detectar a diferença entre um administrador realmente eficiente e o que assume este papel. Mas, mais importante, é o fato de que assumir a imagem de um administrador eficiente compele o espaço do que sou capaz de fazer na realidade, de como eu posso exercer meu poder: eu tenho que obedecer certas regras. Por que, então, tenho que renunciar a dignidade do meu papel de poder para exercer todo o poder? O exercício do poder presidencial por Trump envolve três e não apenas dois elementos: sua rudez no próprio exercício de poder (forçando decretos), sua palhaço-obscena imagem pública, e o local simbólico do poder. Apesar deste local estar desprovido de seu conteúdo positivo (dignidade), ele se mantém totalmente operativo, e é precisamente essa vazies que permite que Trump exercer plenamente seu poder administrativo.

2: Boato e o Grande Outro

Boatos[2] são uma forma específica do grande Outro; eles são, em certo sentido, o outro lado, o anverso do grande Outro que representa a dignidade do espaço público. Pense na situação típica de um pequeno grupo de pessoas em que todos sabem algum segredo embaraçoso sobre um deles, e que todos sabem que todos sabem desse segredo. Não obstante, uma quebra radical acontece quando um deles torna isso público. Ninguém descobriu nada de novo, por que tanto embaraço? Porque eles não podem mais fingir (agir como) que não sabiam. Agora o grande Outro sabe…

Esse é o grande Outro das aparências, e o domínio dos boatos é precisamente o oposto. Boatos não lidam com a verdade factual como algo oposto às aparências. Ambos são fruto da verdade factual extrema (para salvar a aparência da dignidade nós estamos prontos a manter silêncio a respeito da verdade). Boatos anônimos são excluídos do espaço público, e eles continuam estranhamente eficientes mesmo se não forem verdade. Sua narração é normalmente apresentada com: “eu não sei se isso é realmente verdade, mas me disseram (ou em vez, o impessoal ‘alguém disse que’) X fez isso e aquilo…”.

Um caso explosivo de boatos espalhados na forma de negação foi proporcionado por um dos principais canais de televisão russos, Canal Um, que lançou um bloco na programação voltado para teorias conspiratórias sobre o coronavirus em seu principal noticiário noturno, Vremya(“Tempo”). O estilo da reportagem era ambíguo, aparentando desmentir as teorias enquanto deixava os espectadores com a impressão de que tais teorias tinham uma parcela de verdade. A mensagem (as sombrias elites ocidentais e especialmente os EUA são, de alguma forma, os principais culpados pela pandemia de coronavirus) é assim propagada como um boato duvidoso: é muito absurdo para ser verdade, mas, quem sabe…

A suspensão da verdade real estranhamente não aniquila sua eficiência simbólica. Assim, boatos e aparências compartilham uma distância entre a verdade factual. Às vezes, o respeito pela dignidade de outro alguém até demanda de nós que declaremos publicamente algo sobre nós mesmos (assim como aqueles a quem nos dirigimos sabem) que não é factualmente verdade.

3: Donald Trump como um Patriota Obsceno

Deixo-nos recapitular onde nós estamos. Não muito tempo atrás, numa galáxia que agora parece longe, bem longe, o espaço público era claramente distinto das obscenidades das trocas privadas. Esperávamos que políticos, jornalistas e outras personalidades da mídia nos abordassem com um mínimo de dignidade, falando e agindo como se o bem comum fosse sua principal preocupação, fugindo de expressões vulgares e de referências à vida íntima. Havia, é claro, boatos a respeito de seus vícios particulares, mas ficava nisso – questões particulares só eram mencionadas na imprensa marrom. Hoje, no entanto, não só podemos ler sobre detalhes íntimos de personalidades públicas na mídia de massas, mas também os próprios políticos populistas costumam regredir à obscenidade descarada. É o próprio domínio PÚBLICO no qual as “fake news” circulam onde há uma abundância de boatos e teorias da conspiração.

Não se deve perder de vista o que é mais surpreendente a respeito da ascensão dessa obscenidade descarada da alt-right, tão bem notada por Angela Nagle em seu Kill All Normies[3]. Tradicionalmente (em nossa visão retroativa da tradição, pelo menos), a obscenidade descarada funcionava como subversiva, como uma forma de minar a dominação tradicional, privando o Mestre de sua falsa dignidade. Me recordo da minha própria juventude como, nos anos 60, protestos de estudantes gostavam de usar palavras obscenas ou fazer gestos obscenos para embaraçar a figura de poder e, como diziam, denunciar a hipocrisia. Entretanto, o que estamos ganhando hoje em dia, com a explosão da obscenidade pública, não é o desaparecimento da obscenidade, de figuras do Mestre, mas a sua forçosa reaparição: ganhamos algo inimaginável décadas atrás, Mestres obscenos.

Donald Trump é a figura emblemática desse novo tipo de obsceno Mestre populista, e a usual argumentação contra ele – que seu populismo (preocupação pelo bem-estar da comum população pobre) é falso, que suas atuais políticas protege os interesses dos ricos – é muito fraca. Os seguidores de Trump não agem “irracionalmente”; eles não são vítimas de manipulações ideológicas primitivas, que o fazem votar contra seus próprios interesses. Eles são bem racionais em seus próprios termos: eles votam em Trump por conta da visão “patriótica” que ele vende, ele também trata dos problemas comuns do cotidiano deles – segurança, trabalhos permanentes, etc.

Quando Trump foi eleito presidente, fui questionado por alguns de editores para escrever um livro em que submeteria o fenômeno Trump a uma crítica psicanalítica, e minha resposta foi que nós não precisamos de psicanálise para explorar a “patologia” do sucesso de Trump. A única coisa para psicanalisar é a estupidez irracional das reações da esquerda liberal em relação a esse fenômeno, a estupidez que faz com que seja cada vez mais e mais provável que Trump será reeleito. Para usar o que talvez seja o ponto mais baixo das vulgaridades de Trump. A esquerda ainda não aprendeu como agarrar o Trump pelo p…

Trump não está ganhando apenas por nos bombardear descaradamente com mensagens que geram prazer obsceno por mostrar como ele se atreve violar as normas mais elementares de decência. Através de todas as suas vulgaridades chocantes, ele está provendo seus seguidores com uma narrativa que faz sentido – um sentido bem limitado e retorcido, mas, apesar disso, um sentido que obviamente faz um trabalho melhor que a narrativa da esquerda liberal. Suas obscenidades descaradas servem como sinais de solidariedade com as então chamadas pessoas comuns (“veja você, eu sou o mesmo que você; somos todos vermelhos embaixo da pele”), e sua solidariedade também mostra o ponto em que as obscenidades de Trump atingem o limite. Trump não é completamente obsceno: quando ele fala sobre a grandeza da América, quando ele descarta seus oponentes como inimigos do povo, etc., ele pretende ser levado a sério, e suas obscenidades devem enfatizar, por contraste, o nível em que ele é sério. Elas devem funcionar como uma exibição obscena de sua crença na grandeza dos Estados Unidos.

É por isso que, para que se possa minar Trump, deve-se começar deslocando o lugar de obscenidade e tratar como obsceno suas declarações “sérias”. Trump não é verdadeiramente obsceno quando ele usa de termos sexistas vulgares etc.; ele é verdadeiramente obsceno quando ele fala da América como o maior país do mundo, quando ele impõe suas medidas econômicas, etc. A obscenidade de suas falas mascara essa obscenidade mais básica. Podemos parafrasear aqui o famoso ditado dos irmãos Marx: Trump age e parece como um político obsceno e despudorado, mas não vamos nos enganar – ele é realmente um político obsceno e despudorado.

A obscenidade pública sendo proliferada hoje constitui um terceiro domínio entre o espaço público e privado: é o espaço privado elevado à esfera pública. Parece ser a forma que se encaixa melhor na nossa imersão no ciberespaço, nossa participação em todas as salas de bate-papo possíveis, no twitter, instagram, facebook… Não admira que Trump faça a maioria de suas decisões públicas pelo Twitter! Entretanto, nós não entendemos aqui o “Trump real.” O domínio das obscenidades públicas não é este de compartilhamento de experiências íntimas; é um domínio público cheio de mentiras, hipocrisias e pura malevolência, um domínio em que nos engajamos de um jeito similar a este de usar uma máscara detestável. O relacionamento padrão entre meu íntimo e o grande Outro da dignidade pública é virado ao contrário. Obscenidades não são mais limitadas a trocas privadas; elas explodem no domínio público em si, me permitindo habitar na ilusão que tudo é apenas um jogo obsceno enquanto me mantenho inocente e mantenho minha intimidade pura. A primeira tarefa de um crítico é demonstrar como essa pureza é falsa em todos os domínios, não apenas na política, mas também no entretenimento.

Vamos dar uma olhada no último exemplo:

“Gwyneth Paltrow fez um forte negócio de sua vagina. Ela – através de sua plataforma de bem-estar Goop – nos introduziu ao conceito de vapor vaginal, ovos vaginais de jade e, é claro, o elusivo pó de sexo suco de lua. Agora, novidade de janeiro de 2020, nós temos a vela de vagina, a qual, além de já ter esgotado, possui uma lista de espera para os pedidos. /…/ O objetivo, como a descrição do Goop de modo otimista coloca é “fazer-nos recordar da fantasia, da sedução com um calor sofisticado”. Se você deseja comprar um através da lista de espera, custará $75 dólares ou £58 euros.”

De novo, parece que Paltrow está apenas jogando um jogo obsceno enquanto ela preserva sua dignidade íntima. E é isso que deve ser rejeitado: não, sua dignidade íntima é uma falsa máscara ocultando o fato de que ela está vendendo abertamente sua vagina[4]. Pode-se imaginar facilmente alguém de uma agência encarregado de proteger os clientes levantando a questão: como o consumidor sabe que o produto realmente cheira como a vagina de Paltrow? Existe alguma forma de verificar?

4: Novo Populismo não é fascismo

As inconsistências de Trump explodiram com a pandemia de Covid-19. As improvisações confusas na reação de Trump à pandemia foram vastamente noticiadas: primeiro ele elogiou as medidas da China, depois culpou a China e os democratas pelas desgraças dos EUA, tudo isso numa mistura com excentricidades pessoais sobre possíveis curas e chamados a uma volta ao normal. Essa mistura de obscenidades, paranoia política e sabedoria popular exemplifica perfeitamente a natureza do novo populismo de direita de hoje, mas isso também mostra a diferença entre o tradicional populismo “totalitário” e a nova direita populista de hoje. Então vamos aproveitar essa oportunidade e dar um passo atrás e analisar mais de perto a natureza única do populismo de hoje. (Aqui me apoio extensivamente no trabalho de Yuval Kremnitzer[5]).

Como todo populismo, a variedade de hoje desdenha da representação política pretendendo falar diretamente ao povo. Ele reclama como suas mãos estão atadas pelo “deep state”[6] e o establishment financeiro, então a mensagem é: “se apenas não tivéssemos nossas mãos atadas, nós seríamos capazes de acabar com nossos inimigos de uma vez por todas.” Entretanto, em contraste ao velho populismo autoritário (como o fascismo) que está pronto para abolir a democracia formal-representativa e realmente tomar o poder e impor uma nova ordem, o populismo de hoje não tem uma visão coerente de uma nova ordem. O conteúdo positivo de sua política e de sua ideologia é uma inconsistente bricolagem de medidas para subornar “nosso próprio” pobre, diminuir impostos para os ricos, para manter o foco do ódio nos imigrantes e em nossa própria elite corrompida terceirizando trabalhos, etc.

É por isso que os populistas de hoje não querem realmente se livrar da democracia representativa estabelecida e tomar completamente o poder: “sem os ‘grilhões’ da ordem liberar para lutar contra, a nova direita teria que tomar alguma ação real” e isso tornaria obvia a vacuidade de seu programa. E essa é a primeira característica do populismo de hoje: eles só conseguem funcionar no adiamento indefinido de seu objetivo, uma vez que eles só funcionam se opondo ao “deep state” do establishment liberal: “A nova direita não pretende – pelo menos não nesse estágio – estabelecer um valor supremo – por instância, a nação, ou o líder – que expressasse totalmente a vontade do povo e desse modo permitir e talvez até requerer a abolição dos mecanismos de representação.”

Então, como eles lidam com esse antagonismo imanente em seu projeto, sem realmente querer destruir seu inimigo proclamado? Aqui, estilo substitui a falta de substância política – ou seja, o estilo de apego direto à obscenidade. Toda ordem da cultura implica seu subsolo específico de regras não escritas que regulam o que não estamos permitidos de falar a respeito publicamente. Essas regras não escritas operam em vários níveis, de boatos sobre a lado negro da vida privada dos líderes políticos e o uso de palavras sujas a insinuações indecentes a casos que são muito mais “inocentes” e, como tal, ainda mais crucial, porque eles implicam a proibição de declarar publicamente o óbvio. Nos últimos anos de sua vida, Deng Hsiao-Ping oficialmente se aposentou, mas todo mundo sabia que ele continuava a puxar as cordas do poder. Quando um dos altos apparatchiks do partido chinês se referiu a Deng como o líder de fato da China numa entrevista a um jornalista estrangeiro, ele foi, no entanto, acusado de tornar público um segredo de Estado e foi severamente punido. Então, o segredo de Estado não é necessariamente o que apenas alguns podem saber: ele também pode ser algo que todo mundo saiba, todo mundo exceto o que Lacan chama de grande Outro, a ordem da aparência pública.

O que se deve ter em mente aqui é que a obscenidade não é consubstancial com as regras não escritas, e isso também não toma lugar quando nós tornamos as regras não escritas explicitas. Obscenidade emerge quando nós violamos (não as regras explícitas, mas) as regras não escritas, quando nós fazemos ou dizemos algo que não é explicitamente proibido, mas é tido como algo que nós todos sabemos que não devemos dizer. Por exemplo – e esse é um exemplo terrificamente triste -, embora não se fale muito nisso, é claro que não só o Brasil mas também vários países ricos, dos EUA a Suécia, decidiram sacrificar milhares de vidas, especialmente a dos velhos e doentes, a fim de manter a economia em movimento e manter as aparências de uma vida num dia-a-dia normal. Um exemplo mais ridículo: todo mundo sabe que a flatulência em público é considerada um extremo ato de mau gosto, mas enunciar essa regra publicamente já é em si um ato obsceno. Apenas Trump o fez: quando, uma vez, numa fala pública, ele enalteceu Melania como uma dama refinada que, em toda a sua vida juntos, nunca a ouvirá emitir uma flatulência.

Com o novo populismo de direita, algo único acontece: tornou-se possível “para o político, que supostamente deve residir ao lado da decência, mudar drasticamente de lado e apelar diretamente ao obsceno […] o que torna essa nova forma de autoridade tão desafiadora para se compreender é a maneira explícita em que faz a exposição operar perversamente como uma ilusão; o ato de tirar uma máscara funciona como uma máscara.”

Note a formulação precisa de Kremnitzer: é o próprio gesto de tirar a máscara e declarar brutalmente o que se quer dizer funciona como uma máscara. Por quê? Porque a forma obscena mascara a vacuidade de seu conteúdo. A função da obscenidade é bem precisa aqui: ela supostamente serve como o indicador da “sinceridade medial” (em oposição a adesão liberal a regras formais). Trump varia infinitamente esse motivo: ele admite que eles está constantemente quebrando as regras (e não só) de polidez, recorrendo a insinuações vulgares, jogando em seus inimigos acusações não verificadas ou mesmo falsas (lembre o que ele disse a respeito de McCain, Obama…). Mas ele apresenta isso como uma prova de que ele realmente queria dizer isso, em contraste com polidez formal liberal. Numa forma quase-marxista, populistas de hoje denuncia o viés político nos próprios procedimentos formais da política representativa: as regras do jogo não são realmente neutras e iguais para todos os participantes; elas são feitas para prevenir e diretamente manipular a expressão adequada da vontade do povo.

Esse é o jogo que os populistas estão jogando: enquanto permanecem na “lógica representacional” do espaço político liberal, eles constantemente evocam essas mentiras e tentam “trazer aquilo que foge à lógica representacional.” Os excessos vulgares dos populistas

“marcam a polida oposição liberal como aquela que nega hipocritamente aquilo que a direita não tem mais medo de exibir publicamente para que todos vejam. A verdade exposta pela direita – a revelação que a ordem simbólica não é nada além de um show de hipocrisia colocada para ocultar a realidade violenta – é congruente com o projeto anti-ideológico de pensamento crítico e, portanto, a crítica se vê impotente para fazer uma oposição.”

Nesse sentido, enquanto a crítica populista é simetricamente oposta à divulgação politicamente correta das ilusões da neutralidade liberal, elas suplementam e reforçam umas às outras: “a indignação moral da esquerda alimenta o apetite da direita por transgressão, que alimenta a indignação moral da esquerda, e o ciclo continua.” Sejamos mais específicos aqui: nós temos três posições. Primeiro, existe um legalismo liberal-formal que acredita na neutralidade dos processos de representação política. Então, existem três posições críticas em relação a essa instância, incluindo a análise politicamente correta que lê a neutralidade liberal oficial com suspeita e tenta trazer à tona seu preconceito racial, cultural e de gênero. A postura PC (politicamente correta) se mantém nas coordenadas liberais básicas; ela só quer atualizar a postura liberal inteiramente por meio da abolição de seus preconceitos escondidos. O problema, no entanto, é que isso foca na responsabilidade individual. Com zelo moralista, analisa os detalhes o comportamento do sujeito, procurando traços de racismo e sexismo. Mas seu domínio é o da identidade sexual e cultural, não o econômico radical e da mudança social. Isso exorta você a mudar seu comportamento, de te livrar de clichês sexistas e raciais, não de analisar a sociedade que os fez nascer.

O poder chocante de populistas obscenos reside em sua prontidão em declarar abertamente que a crítica PC está tentando desenterrar por meio de análises refinadas. Eles afirmam sua ignorância admitindo-se antecipadamente (o que é aos olhos do crítico PC) sua culpa. Isso, num certo sentido, torna a análise PC inútil, como se tentasse arrombar uma porta aberta, então, não é de se admirar que as críticas PC perdem muito tempo se analisando, descobrindo rastros de racismo e sexismo em gestos aparentemente respeitosos.

O moralismo puritano PC e a exibição pública de obscenidade da nova direita populista são dois lados da mesma moeda. O problema com ambos é que eles não fazem realmente o que prometem. O problema com a obscenidade populista não é que é moralmente irresponsável, mas que não é realmente obsceno: a instancia temerária de ignorar abertamente regras de decência, sem constrangimento, dizer tudo o que vem à mente é uma fachada falsa, que esconde um denso submundo de regras não escritas que prescrevem o que se pode dizer e o que não se pode dizer.

De forma homóloga, não é que a instancia PC seja moralista demais e não tenha a vivacidade da obscenidade. Não, o moralismo excessivo do PC é falso, porque encoberta o cálculo oportunista, a hipocrisia e a justiça própria. É cheio de regras não escritas: minorias contam mais que os outros; critérios sutilmente diferentes do que é permitido e do que é proibido, critérios que mudam tão rápido quanto a moda; antirracismo baseado numa arrogância racista escondida (um homem branco que pede aos outros para que afirmem sua identidade renuncia sua identidade e, desta forma, reserva a si a posição de universalidade); e, especialmente, a consciência de quais questões não devem ser levantadas (mudança social radical, etc.). Deve haver mais mulheres em posição de poder, mas a estrutura em si não muda; devemos ajudar os pobres, mas devemos continuar ricos; não deve haver um abuso de posições de poder na universidade para se obter favores sexuais destes subordinados a nós, mas o poder que não é sexualizado é ok.

Angela Nagle e Michael Tracey estavam certos em ver a principal razão da derrota de Sanders na batalha pela nomeação Democrata no fato de que sua campanha foi da insurgência popular de classe à liberal resistência anti-Trump, da guerra de classe às guerras culturais: ansioso para agradar a esquerda liberal do partido democrata, ele foi mais e mais subordinando a insurgência de classe para tópicos culturais, isto é, ele endossou silenciosamente a visão da esquerda liberal que o principal perigo não é o capitalismo global, mas, na verdade, o  “fascismo” de Trump contra qual todos devemos nos unir. Não é de se espantar que Biden está jogando muito bem esse jogo. Existem rumores que até George Bush o apoiará contra Trump.

5: A Crise do Novo Populismo

A ordem do mundo como conhecemos está desintegrando. Países estão cortando laços com a OMS e outras organizações mundiais enquanto revogam antigos acordos de armamento. Trump anunciou sua intenção de usar o exército nas ruas das cidades estadunidenses; China fala de uma possível invasão militar em Taiwan; Putin disse que a Rússia talvez use armas nucleares mesmo se for atacado com armas convencionais. Nesse sentido, esperava-se que populistas nacionalistas aproveitassem a oportunidade da pandemia de COVID-19 e transformassem seus países em feudos isolados dirigidos contra inimigos estrangeiros. Mas isso não funcionou, de modo que suas bravatas se transformaram em uma demonstração flagrante de impotência e incompetência.

Peguemos os três grandes populistas autoritários do mundo hoje. Como Angela Dewan colocou, “Trump, Putin e Bolsonaro descobriram que seus manuais populistas não são páreos para o coronavirus” (e nem o de Boris Johnson é, o qual, está também jogando a carta populista):

“A pandemia de coronavirus poderia ser um momento de glória para os líderes populistas do mundo. Esse é um grande período de medo e ansiedade – emoções que tipicamente os fazem crescer. Em vez de disso, alguns populistas estão se veem impotentes contra os surtos que devastam seus países. Os EUA, Brasil e Rússia agora possuem os maiores números de casos de coronavirus no mundo, e como o número de mortos continua a aumentar, suas economias estão recebendo golpes devastadores.”

Donald Trump se viu num dilema especial quando a crise de COVID-19 foi ampliada pelos protestos contra o assassinato de George Floyd. A pandemia ecoa claramente nesses protestos: as últimas palavras de Floyd foram “não consigo respirar  também são palavras usadas corriqueiramente por pacientes de COVID-19 que estão morrendo. A ligação é óbvia: uma porcentagem muito maior de negros do que de brancos é afetada pela violência policial e pela infecção do novo coronavirus. Nessa bagunça, Trump está simplesmente fora de sua liderança: incapaz de impor uma visão unificadora, de performar um gesto de líder numa situação, convocando um líder que fornecesse uma descrição sincera da gravidade da situação com algum tipo esperança ou visão. Ou, como Robert Reich escreveu: “Você seria perdoado se não tivesse notado. Suas bombas verborrágicas estão mais altas do que nunca, mas Donald Trump não é mais presidente dos Estados Unidos.” Quando ele ameaçou dizendo que, se a polícia e a guarda nacional pode trazer pudessem acalmar, ele enviaria o exército regular para esmagar os protestos com sua “força infinita”, ele se tornou o agente instigador de uma guerra civil.

Mas o que é essa guerra? Uma coisa a respeito dos protestos em andamento nos EUA não é enfezada o suficiente, por mais que seja absolutamente crucial: não há lugar para a insatisfação que alimenta os protestos no espaço das “guerras culturais” entre a esquerda liberal politicamente correta e os neoconservadores populistas. A posição da esquerda liberal a respeito dos protestos é: Sim a protestos pacíficos e dignos, mas não aos excessos extremistas-destrutivos e saques. Num nível mais elementar eles estão certos, claro, mas eles perdem o ponto do excesso violento, que é a reação ao fato de que jeito liberal e pacífico de mudança política gradual não funciona, que o racismo sistêmico persiste nos EUA. O que surge nos processos violentos é a raiva que não pode ser adequadamente representada em nosso espaço político.

Esse também o porquê de tantos representantes do establishment, não só liberais, mas também conservadores, são abertamente críticos da posição agressiva de Trump em relação aos protestantes. O establishment quer desesperadamente canalizar os protestos nas coordenadas da eterna “luta contra o racismo”, um dos eternos objetivos dos liberais. Eles estão prontos para admitir que nós não fizemos o suficiente, mas existe um longo e difícil trabalho pela frente… apenas para prevenir uma rápida radicalização dos protestos, não apenas em mais violência, mas em sua transformação num movimento político autônomo com uma plataforma claramente demarcada do establishment liberal. Como Matthew Flisfeder escreveu: “O que nós precisamos aprender não é como ser pós-humano, mas como ser equitativamente pós-capitalista.”[7]. Pós-humanismo é, no final das contas, mais uma versão de nossa inabilidade de pensar o pós-capitalismo: para parafrasear Fred Jameson, é mais fácil imaginar toda a humanidade conectada digitalmente com seus cérebros conectados e compartilhando experiencias em uma autoconsciência global do que imaginar um movimento para além do capitalismo global.

Protestos violentos são um retorno do reprimido de nossas sociedades liberais, um sintoma que encena o que não pode ser formulado no vocabulário do multiculturalismo liberal. Normalmente, acusamos pessoas que só falam em vez de fazerem algo. Os protestos em andamento são o exato oposto: pessoas agem violentamente porque eles não possuem as palavras certas para expressarem suas queixas.

Parafraseando o bom e velho ditado de Brecht “O que é o roubo de um banco comparado à fundação de um banco novo?”: O que é uma obscenidade diretamente racista comparada com a obscenidade de um liberal que pratica tolerância multiculturalista de tal forma que o permite manter preconceitos racistas. Ou, como Van Jones colocou: “Não é a pessoa branca e racista que faz parte da Ku Klux Klan que temos que nos preocupar. É com o apoiador branco e liberal de Hillary Clinton que leva seu cachorro para passear no Central Park que te diria agora mesmo ‘Ah, eu não vejo raça, a raça não é grande coisa pra mim, eu vejo todas as pessoas como iguais, eu faço caridade’ mas no momento em que ela vê um homem negro que ela não respeita, ou que seu pensamento diverge um pouco, ela faz da raça uma arma tal como se tivesse sido ensinada numa nação ariana.”

Ainda, tal exemplo suscitado por Jones é mais complexo. Se uma mulher branca se sente preocupada quando ela vê um homem negro se aproximando dela e, dessa forma, agarra a própria bolsa com medo de ser roubada, um crítico PC a acusaria de estar agindo conforme seus preconceitos raciais. Para isso, um populista da nova direita retrucaria que, provavelmente, seu medo era justificado, uma vez que ela já foi roubada por um homem negro. Responder perguntando quais causas sociais levaram o homem negro a agir assim não é suficiente. Mesmo quando os críticos PC fazem isso, eles utilizam do argumento como uma forma de desculpar e dessubjetivar o ladrão negro: o ladrão não é culpado, uma vez que ele não é completamente responsável por seus atos, mas um produto de circunstâncias infortunas (enquanto o racista branco é tratado como moralmente totalmente responsável, e por essa razão, como alguém desprezível). É uma escolha triste para o negro oprimido: ou você é subjetivamente deficiente (racismo) ou você é um produto de circunstâncias objetivas (PC liberal). Como sair desse beco sem saída? Como transformar a raiva cega numa nova subjetividade política?

O primeiro passo nessa direção foi feito por membros da própria polícia. Diversos policiais, incluindo o chefe da NYPD, Terence Monahan, “ajoelhou-se*” com os protestantes – uma prática introduzida décadas atrás por atletas norte-americanos quando ganhavam medalhas de ouro e o hino nacional era tocado em eventos esportivos. A mensagem desse gesto é demonstrar a injustiça racial em seu próprio país e, por ser um sinal de desrespeito ao hino nacional, significa que não se está pronto para se identificar totalmente com os EUA – “essa não é o meu país”. Não é de se admirar que os chineses reportem alegremente os protestos nos EUA, lendo-os como uma repetição dos protestos de Hong Kong, onde as principais demandas das autoridades chinesas eram de não permitir um tratamento desrespeitoso ao hino nacional chinês e de outros símbolos da china.

Ajoelhar-se também é conhecido por possuir outro sentido, especialmente quando feito por aqueles que agem em nome do aparato repressivo do poder: é um sinal de respeito aos protestantes, até com um toque de auto-humilhação. Se nós combinarmos isso com a mensagem básica que “esse Estados Unidos (pelo qual meu trabalho é agir) não é meu país”, nós pegamos todo o significado desse gesto: não o anti-americanismo padrão, mas uma demanda por um novo começo, por outro EUA. Então, o título de um recente comentário da CNN “Os EUA ainda são o líder moral do mundo? Não depois do que Trump fez na última semana” deveria ser mais afiado: agora nós vemos que os EUA nunca foram o líder moral do mundo e ele precisa de uma radical renovação étnico-política bem além da visão tolerante da esquerda liberal.

Aqui, deve-se traçar um contraste claro entre protestantes anti-quarentena e os protestantes do Black Lives Matter. Embora os populistas anti-quarentena protestem em nome da dignidade e liberdade universais, enquanto os protestos do Black Lives Matter focam na violência contra um específico grupo racial, e apesar de alguns policiais simpatizarem com os protestos anti-quarentena, “a ideia de pedir para que a polícia se junte à primeira é risível, apesar da universalidade professada, enquanto a segunda acolhe a polícia mesmo que pareça uma luta particular.”[8]. Em suma, os “universais” protestos anti-quarentena contém um giro oculto em direção à uma identidade branca, enquanto os protestos do Black Lives Matter são efetivamente universais: o único jeito de lutar contra o racismo de uma posição verdadeiramente universal hoje nos EUA é ver racismo antinegro como um “singular universal”. Como um caso particular, o que fornece a chave para a universalidade.

Nos meus livros, eu comumente cito uma velha piada da antiga república democrática da Alemanha: um trabalhador alemão arruma um trabalho na Sibéria. Sabendo que todas as correspondências são lidas por sensores, ele diz a seus amigos: “vamos estabelecer um código: se a carta que você receber de mim estiver escrita com uma tinta azul normal, a mensagem é verdadeira; se é escrita com tinta vermelha, ela é falsa.” Depois de um mês, seus amigos recebem a primeira carta escrita com tinta azul: “Tudo é maravilhoso aqui: os supermercados estão cheios, a comida é abundante, os apartamentos são grandes e propriamente aquecidos, cinemas mostram filmes do ocidente – a única coisa que está faltando é tinta vermelha.” É isso o que o movimento de protestos deveria procurar: a “tinta vermelha” para formular propriamente a mensagem, ou, como Ras Baraka, o prefeito de Newark e filho do grande poeta negro Amiri Baraka colocou: nós não podemos ganhar com armas; para termos uma chance de ganhar, precisamos usar livros.

Vários críticos de esquerda ortodoxos dispensam minha ideia de uma perspectiva comunista se abrindo com a pandemia em andamento com o argumento marxista padrão que não existe uma revolução sem a um partido revolucionário (uma força organizada, que sabe o que quer) e uma força como esta está longe de ser vista nos dias atuais. Entretanto, essa crítica ignora duas características únicas de nossa situação atual. Primeiro, a situação em si mesma – na saúde e economia – demanda medidas, a qual suspendeu os mecanismos de mercado obedecerem a máxima “a cada um segundo as suas necessidades, de cada um segundo as suas capacidades”, até que políticos conservadores em poder são obrigados a impor coisas lembrando a renda mínima universal. Segundo o sistema capitalista global está se aproximando de sua tempestade perfeita, na qual a crise de saúde combinada com a crise econômica, com uma crise ecológica, conflitos internacionais, e protestos antirracistas. Esses últimos protestos não estão limitados aos EUA, mas estão emergindo por todo o mundo; é como se estivéssemos entrando num novo estágio de nossa consciência ética onde o racismo é simplesmente considerado intolerável. A combinação desses conflitos, a consciência de que eles estão ligados de forma intrínseca, possui um imenso potencial emancipatório.

Notas:

[1] Citado de um manuscrito não publicado.

[2] Me baseio aqui em Mladen Dolar que elaborou o conceito de boato em todas as suas dimensões

[3] Ver Angela Nagle, Kill All Normies, Nova Iorque: Zero Books, 2017.

[4] Agora a tendência continua: cantora Erykah Badu anunciou que ela venderá incenso vaginal feito de sua calcinha usada… ver https://www.msn.com/en-gb/lifestyle/style/erykah-badu-to-sell-vagina-incense-made-from-her-used-underwear/ar-BBZIHxr?ocid=spartanntp.

[5]  As citações não creditadas que se seguem são de Yuval Kremnitzer, “The Emperor’s New Nudity: The Media, the Masses, and the Unwritten Law” (manuscript).

[6] O conceito de Deep State busca expressar a ideia de um “Estado dentro do Estado”, ou seja, frações da burocracia estatal que operam à revelia de quer que esteja do poder

[7] Comunicação pessoal.

[8] Todd McGowan, comunicação privada.

Texto original: https://thephilosophicalsalon.com/power-appearance-and-obscenity-five-reflections/

Título original: Power, appearance, and obscenity: five reflections

Autor: Slavoj Žižek

Publicado em: 22/06/2020

Tradução: Marcus Apolinário

Revisão: Moisés João Rech e Pedro Diniz

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