Pascal
Mallarmé

  1. O título refere-se ao jogo de azar de roleta [roulette], inspirado na figura histórica e supersticiosa da “Roda da Fortuna”. A roleta é dividida composta pelos números de 0 a 36 e alternados pelas cores preto e vermelho; o número 7 – que tem a fama de ser um número divino – é marcado no jogo pela cor vermelha, cor que também identifica a esquerda política pelo menos desde a Revolução Francesa, os ímpares. Curiosamente, deve-se a ideia de adicionar números em uma roleta ao filósofo Blaise Pascal, que teorizou sobre o conceito de “aposta” no problema clássico da história da filosofia sobre a existência de Deus e é dele a epígrafe que abre essa introdução de Bensaïd (Nota do Tradutor). ↩︎
  2. “Sim, mas é preciso apostar. É inevitável, estais embarcados nessa.”, ver PASCAL, Blaise. Pensamentos. Edição, apresentação e notas de Louis Lafuma; tradução de Mário Laranjeira; revisão técnica de Franklin Leopoldo e Silva; revisão da tradução de Márcia Valéria Martinez de Aguiar; introdução da edição brasileira Franklin Leopoldo e Silva. – 2a ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2005, p.160. (N.T.) ↩︎
  3. MALLARMÉ, Stéphane. Um lance de dados. Introdução, organização e tradução de Álvaro Faleiros. – Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2013, p.103 (N.T.). ↩︎
  4. Aqui Bensaïd quer dizer que há uma pretensão na história (escrita em letra minúscula) em tornar-se História (escrita em letra maiúscula). O termo pare traz o sentido de aparência, como “vestir-se” ou “adornar-se” e o termo majuscule significa “capitalizada”, que é como chamamos a primeira letra de uma palavra que fica “maiúscula”, mas evitamos o termo para não correr o risco de relacionarmos isso a algum movimento do Capital. Optamos pelo “exibir” para não ocorrer o equívoco de significar o tempo no sentido de “aparente” ou “ilusório” (N.T.). ↩︎
  5. MAIRET, Gérard. Le principe de souveraineté, Histoires et fondements du pouvoir moderne. Paris, Gallimard, coll. “Folio essais”, 1996, p.204. ↩︎
  6. Em francês, “zéro” (zero) e “héros” (herói) têm uma pronúncia semelhante. Aqui, Bensaïd provavelmente utiliza essa derivação “zéroième” para referir-se ao ano zero de acontecimento que torna-se, em seu aniverśario, a rememoração de seu heroísmo, algo como um neologismo próximo de “zeroísmo” (heroísmo) ou “zerésimo aniversário”. Costuma-se exemplificar esse adjetivo através de Charles Péguy, citado pelo autor em seguida: “A tomada da Bastilha, diz a História, foi verdadeiramente uma celebração, foi (…) já, por assim dizer, o primeiro aniversário da tomada da Bastilha. Ou finalmente o zerésimo aniversário” (PÉGUY. Clio, 1914, p.114). A relação entre zéro e héros vem desde, pelo menos, Arthur Rimbaud que, em seu poema elegíaco das experiências de barricadas na Comuna de Paris – “Canto de guerra parisiense” -, chama as figuras de Thiers e Picard de “dois Éros” (des Eros), brincando com a pronúncia semelhante (des héros ou des zéros), o que levou João Rocha a traduzir o trecho como “heróis zero à esquerda”, in: Caderno de Leituras n.108, Série Rama, Edições Chão da Feira. Belo Horizonte, julho de 2020 (N.T.). ↩︎
  7. PÉGUY, Charles. Clio. Paris, Gallimard, coll. “Folio essais”, 1996, p.204. ↩︎
  8. Referência ao verso do poema “A expiação“, de Victor Hugo, que reconstitui as etapas da queda de Napoleão Bonaparte após o Golpe de Estado de 18 Brumário: “Waterloo! Waterloo! Planície sombria!”, disponível em: https://www.poetica.fr/poeme-7187/victor-hugo-expiation/. Morne tem o sentido de “ estado de tristeza”, “aborrecimento”, “sombrio”, “abatido” – talvez pudéssemos aproximar seu sentido do significado de “melancólico” (N.T.). ↩︎
  9. MALLARMÉ, Stéphane. Un coup de dés jamais n’abolira le hasard. Paris, Gallimard, coll. “Poésie”, 1976. ↩︎
  10. Provavelmente, Bensaïd tem como inspiração o conceito de crítica [kritik] desenvolvida por Walter Benjamin a partir do idealismo alemão, definida por Immanuel Kant como uma delimitação dos limites do conhecimento (cf. KANT, I. Prefácio à primeira edição IN: Crítica da razão pura. Tradução e notas de Fernando Costa Mattos.  4. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes: Bragança Paulista, SP: Editora Universitária São Francisco, 2015.) – segundo a etimologia grega do verbo krinein, há na palavra os sentidos de “separar”, “distinguir” e “delimitar”, o que dará origem aos termos “critério” e “crise” (cf. GAGNEBIN in: BENJAMIN, W. Escritos sobre mito e linguagem. Organização, apresentação e notas de Jeanne Marie Gagnebin; tradução de Susana Kampff Lages e Ernani Chaves. – São Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2013, p.121). A partir disso, para Benjamin, são “loucos os que lamentam o declínio da crítica. Pois sua hora há muito tempo já passou. Crítica é uma questão de correto distanciamento” (BENJAMIN, W. Rua de mão única. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho e José Carlos Martins Barbosa; revisão técnica de Márcio Selligman-Silva – 6a ed. revista – São Paulo: Brasiliense, 2012, p.56, grifo nosso) (N.T.). ↩︎
  11. PÉGUY, Charles. Clio. Op. cit., p. 111. ↩︎
  12. Provavelmente, Bensaïd refere-se a um tipo de aposta específica na roleta, na qual tem-se a aposta de quatro [quatre] fichas para cobrir apenas 7 números, sendo uma aposta arriscada que tem o nome de “Zero”. ↩︎
  13. Lubianca é o nome popular para a sede da KGB (Komitet Gosudarstveno Bezopasnosti) – o serviço secreto da época da União Soviética – em Moscou (N.T.). ↩︎

Leonardo Silvério

Tradutor, artista, ensaísta e mestrando em Filosofia na USP na área de Estética e Filosofia da Arte. Mais um zero à esquerda.

Ubiratã Tubis

Revisor e mestrando em Estudos do Texto e do Discurso na Unesp de São José do Rio Preto.

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